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Jazz abrasileirado

Nelson Ayres reúne 16 músicos e reedita o formato da big band, com que ele fez sucesso nos anos 1970.

Big band é um grande grupo instrumental associado ao jazz. Esse tipo de formação foi muito popular, principalmente nos Estados Unidos, dos anos 1920 aos anos 1950, período que ficou conhecido como a Era do swing. No Brasil, a tradição das big bands só começou mais tarde, por volta dos anos 1970. Em 1973, após uma temporada norte-americana, o maestro, arranjador, compositor e instrumentista paulista Nelson Ayres decidiu criar a Nelson Ayres Big Band, que acabou abrindo espaço para muitas outras que viriam depois.

Em 1980, como o próprio músico diz, “reviravoltas que o mundo dá” fizeram com que o grupo perdesse o gás. Mas, em 2015, por sugestão de músicos que costumavam acompanhar as apresentações da banda, ela retomou suas atividades. “Esses artistas que sugeriram eram muito jovens na época em que a gente começou, mas sempre que podiam iam nos assistir. E para eles a big band até os estimulou a escolher a música como carreira profissional. Daí a ideia do resgate”, comenta Ayres.

Para celebrar essa retomada, os músicos gravaram o disco Nelson Ayres Big Band, primeiro registro fonográfico do grupo musical. “A gente não tem nenhuma gravação daquela época. Era muito caro produzir um disco, porque tudo tinha que ser feito através de gravadora, ainda mais que é um tipo de música que não é muito comercial. Não tinha esse movimento independente que tem hoje”, analisa.

APOIO Mesmo sem contar com nenhum estúdio por trás, os músicos tiveram o apoio cultural do Projeto Ceará 202, inciativa informal sem subsídios públicos do escritório Ernesto Tzirulnik Advocacia (ETAD). O repertório traz composições do próprio Nelson Ayres, como a vibrante Olé!, Só xote, Organdi e gomalina, além de clássicos da MPB como Sebastiana (Jackson do Pandeiro), Fechado pra balanço (Gilberto Gil) e Corcovado (Tom Jobim). “Procuramos ter uma linguagem mais brasileira do que jazzística. Ao longo do processo de produção, as músicas foram surgindo. Temos bons exemplos da diversidade e de ritmos”, ressalta.

O CD conta com 16 solistas, que vão desde músicos que fizeram parte da formação original, como Carlos Alberto Alcântara, aos que assistiam às apresentações, como Ubaldo Versolato e Nahor Gomes. Há ainda talentos que sequer haviam nascido na época de sua primeira formação, como o saxofonista Cássio Ferreira e o trompetista Rubinho Antunes.

O show de lançamento está previsto para o dia 13 de julho, em São Paulo, e a ideia é fazer uma turnê por outras cidades. Para o arranjador e diretor musical do CD, é quase um milagre ver o álbum pronto. “Temos várias big bands no Brasil, não só em escolas de música, mas também formações profissionais, como a Banda Mantiqueira. É bacana ver que pelo menos uma delas conseguiu fazer o seu disco”, comemora.

Nelson Ayres tem uma ligação especial com os músicos mineiros. Ele considera os músicos da Orquestra Ouro Preto, por exemplo, seus “irmãos musicais”. “Vira e mexe estou fazendo alguma coisa com os mineiros. Trabalhei com Milton em alguns discos, temos uma composição juntos (Cidade encantada), há uns dois anos fiz um trabalho com o pessoal do Conservatório da UFMG, com quem acabei até trabalhando esse repertório que entrou no disco. Por isso, espero poder mostrar este trabalho aí em Minas também”, diz.

Fonte: Portal Estado de Minas